25 julho, 2011

Lágrimas que secam por conta própria



Amy Winehouse - 1983-2011

Em meados dos anos 00, o bom-mocismo à la Bono Vox reinava no show-biz, quando, num burburrinho da internet, apareceu Amy, fazendo tudo errado. Enquanto as outras moças eram todas franjinhas e chapinhas, a porralouca surgiu ostentando um vespeiro na cabeça, alguns quilos de maquiagem na cara, uma garrafa de vodka na mão e tatuagens para todo lado. Com uma voz poderosa e clamando de que não iria pro « rehab » de forma alguma  - antes mesmo que a maior parte das pessoas sequer soubesse o que era isso – a mulher parecia mais um furacão. Saiu por aí destruindo corações e arrastando grammys pelo caminho. No meio da fúria, ninguém parou para reparar que a gigante na verdade era uma menina ainda, com vinte e poucos anos mal completos, um corpinho frágil e uma cabeça mais ainda. Embriagados pela dose exagerada de um tipo de talento que há muito tempo não se experimentava, os amantes da boa música fizeram da Amy a sua cachaça durante todo o ano de 2007. « Back to Black » , lançado em outubro do ano anterior, tinha nome de disco de roqueiro e gosto de Motown misturado com novidade. As dez delícias do álbum se popularizaram e foram entornadas por todos os cantos, respingando até nas radios FMs que insistiam ainda no hip hop vendido e na repetição exaustiva de insossos sucessos dos anos 80. De repente, Amy era cool o suficiente pros indies, mas também era tão diva quanto Beyoncé, e os seus pais poderiam não saber o nome dela ainda, mas já conheciam as músicas, e gostavam delas. Amy era uma unanimidade, menos para ela mesma. Enquanto suas criações subiam nas paradas, ela afundava cada vez mais. Estava mais do que óbvio que a coisa tinha saído de controle, e era tão fácil ver uma manchete envolvendo algum escândalo quanto ouvir um hit dela tocando em algum lugar.


Se na música – apesar da influência visível de artistas como Marvin Gaye - Amy soube ser original, na esfera pessoal a cantora não era mais do que uma triste sucessão de clichês. Os repetidos vexames envolvendo bebida e outras drogas pareciam um mau presságio  do que estaria por vir e, afinal, chegou nesse 23 de julho. Amy se foi aos 27 anos, mesma idade em que tantas outras estrelas da musica partiram, tantas o suficiente para compor um « clube » - o infame Clube dos 27, em cujo rol estão o seu provável fundador, o bluesman Robert Johnson, morto em 1938 em condições misteriosas; a santa trindade dos anos 60, Jim, Janis e Jimi; o genial fundador dos Rolling Stones, Brian Jones; e Kurt Cobain, o último grande rockstar de que se tem notícia. Com causa de morte ainda a se determinar, Amy é forte candidata a entrar no macabro panteão. No entanto, e isso, eu não sei se é para vocês também ou se é só para mim, fica a amarga sensação de que a garota se foi antes mesmo de provar sua grandeza como artista aqui na Terra. Não basta o talento, também conta a obra – ninguém duvidaria de que Amy era capaz de encantar mas… Quase cinco anos se passaram desde o lançamento de « Back to Black », e estávamos todos esperando aqui por algo mais. A morte acabou vindo antes que a inglesa pudesse comprovar de que não era uma cantora de uma nota só. Tão equivocada quanto inevitável é a especulação sobre o que teria acontecido, mas o que todos parecem pensar é que Amy desistiu de si mesma – afinal, a cada ida e volta do rehab (que ela acabou frequentando mais de uma vez, quando a coisa ficou realmente feia), a cada vaia que recebia durante cada show que não conseguia completar, o terceiro disco se tornava uma quimera, e assim se tornava cada vez mais distante também a libertação final dos terrores que lhe cercavam. As queixas após as curtas e irregulares apresentações mostravam que boa parte dos fãs já havia desistido de esperar alguma recuperação, e ver a Amy cantar se tornou mais uma questão de poder presenciar qualquer desafino da musa dos degenerados antes que ela se fosse do que de ouvir uma grande cantora no auge de seu talento. E, mesmo sabendo o quanto Amy deixou a desejar nas ultimas aparições, não é que bate o arrependimento de não ter comprado um ingresso quando se podia? Agora o que fica é isso, o remorso digno de uma grande ressaca e a certeza de que, por mais romântico que se pareça, morrer jovem não vale a pena pra ninguém.







2 comentários:

  1. Oiee, tudo bem? Você já segue a banda QUARTER? Siga! @quarterock e o ST oficial deles pra ficar por dentro de todas novidades @QuarterST Beijos @Laura_Malheiros / @LauraQST_

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